terça-feira, 22 de dezembro de 2009

CHAFI ABDUCH. Grupos operativos com Adolescentes




O artigo “grupos operativos com Adolescentes”, de Chafi Abduch faz uma reflexão sobre a vivência do homem em sociedade, que segundo ele, exige frequentemente reavaliações a fim de integrar eticamente nossas diferenças. Chafi Abduch é um médico com formação em urologia e psiquiatria.Como psiquiatra, é envolvido com o Programa de Saúde Integral do Adolescente da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo. De acordo com ele, na adolescência, experimentamos essa vivência grupal fora do âmbito social familiar, entrando em contato com diferentes culturas, hábitos e valores. Neste texto o autor demonstra a importância do adolescente experimentar essa vivência em grupo, que pode tornar-se uma proteção à própria saúde, embora seja um ponto de articulação de sistemas de personalidade, nem sempre têm caráter integrativo. O mesmo grupo pode tornar-se um foco de anormalidades ou de propostas de transformação social.
O objetivo é sensibilizar profissionais que trabalham com jovens e adolescentes em situações de grupo, a fim de que possam aproveitar essa oportunidade como um espaço protetor à saúde integral dos nossos jovens.Sendo assim, o grupo pode ser um instrumento de promoção, prevenção e atenção à saúde integral do adolescente.
A teoria e a técnica de grupos operativos foram desenvolvidas por Enrique Pichon Riviére (1907-1977), médico psiquiatra e psicanalista de origem suíça, que viveu na Argentina desde os seus quatro anos de idade. Para ele, o grupo operativo consiste em técnica de trabalho com grupos, cujo objetivo é promover de forma econômica, um processo de aprendizagem, transformadora, podendo ser aplicada a adolescentes, familiares, grupos de terceira idade, e outros. Com adolescentes, ela tem sido indicada como instrumento que visa desenvolver os fatores básicos e elementares de prevenção: auto-estima, juízo crítico, plano de vida e criatividade, capacidade essas que, se desenvolvidas em grupo, tornam-se fatores protetores aos riscos que jovens estão expostos. Sendo, portanto, um importante instrumento da Psicologia Social. Cabe ressaltar que nesta técnica os jovens se sentem protagonistas de suas próprias histórias e da história de sua comunidade.
Para que se constitua em um grupo, há necessidade de se vincular e interagir, no sentido do objetivo comum. O vínculo é uma estrutura psíquica complexa. Todo vínculo há uma presença sensorial corpórea dos dois, e há ainda um personagem do mundo interno, que está sempre interferindo nesta relação, que é o terceiro. É possível identificar que o vínculo foi estabelecido, quando somos internalizados pelo outro e internalizamos o outro dentro de nós.
Uma temática é proposta como disparador da tarefa, que é também outro princípio organizador de grupo, para Pichon, é um conceito dinâmico que diz respeito ao modo, pelo qual, cada integrante interage a partir de suas próprias necessidades. Necessidades essas, que se constituem em um pólo norteador de conduta, sendo que a tarefa é a trajetória que o grupo percorre para atingir suas metas. Dessa forma, esse grupo operativo pressupõe aprendizagem e mudança.
A estrutura e dinâmica grupal são compostas pelos seus integrantes, um coordenador e um observador.
Como foi dito anteriormente, o aprender sob a ótica pichoneana tem um sentido de mudança. Toda situação de mudança mobiliza os medos básicos de perda e ataque, que estão a serviço da resistência ao novo. Pois, cada sujeito comparece com sua história pessoal consciente e inconsciente, e essas diferenças pessoais fazem surgir um processo contraditório e confuso em determinados momentos do grupo, tornando-se obstáculo na comunicação, que dificultam atingir as metas. Esses obstáculos precisam ser reconhecidos para serem superados, evitando assim a dissolução do grupo. É, portanto, um movimento dialético, onde cada alvo alcançado transforma-se imediatamente, em um novo ponto de partida, tornando possíveis os ajustes e correções de conceitos, preconceitos, entre outros, desenvolvendo uma atitude criativa.
Dessa forma, o aluno passa a ser um aprendiz que, ao fazer, vai aprendendo.
O número máximo de integrantes do grupo deve ser de 15 membros. A duração do grupo e sua periodicidade devem ser pré estabelecidos de acordo com as metas a serem cumpridas.
O coordenador e o observador jamais devem interferir na independência ou mudar o destino do grupo. Compete a eles o papel de intermediador e facilitador.
De acordo com ele existem os vetores de avaliação: o primeiro vetor inclui os fenômenos de afiliação, na medida em que o grupo se desenvolve, o vetor afiliação vai se transformando em pertença. Assim, os integrantes superam as distâncias e “vestem a camisa”, percebem que o projeto lhe pertence, passando de espectadores a protagonistas. O terceiro vetor é a cooperação: cada um contribui com o que sabe e com o que pode.
O quarto vetor é a pertinência, é centrado na tarefa, portanto, é positiva no sentido de mudança.
Um vetor fundamental de integração do grupo é a comunicação que pode ser: verbal; gestual; por atitudes comportamentais; afetivas e emocionais.
O sexto vetor de avaliação da operatividade de um grupo é a aprendizagem que se desenvolve a partir das informações, em saltos de qualidade que incluem a tese, antítese e síntese.
O sétimo vetor é a tele, é a disposição positiva ou negativa para trabalhar a tarefa grupal; ou seja, a aceitação ou rejeição que os integrantes têm espontaneamente em relação aos demais.
Do grupo em interação, as melhores idéias são incorporadas pelos indivíduos, o grupo se deixa conduzir por um fio comum, ao mesmo tempo em que cada qual mergulha em busca de respostas em seu próprio universo mental.
Maria de Lourdes David

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